Oficina Literária

Oficina Literária é uma disciplina do TEL ministrada pela professora Elizabeth Hazin

domingo, 12 de abril de 2009

Exercício do diálogo - Manuela

O diálogo:

-Falei com ele, cara. Ele já sabia que eu gostava dele porque a Alessandra contou.

-E o que ele disse?

- Que eu era muito nova, mas que eu era como uma irmãzinha pra ele. Eu nunca chorei tanto, cara. Na frente dele mesmo.

Não conseguia dormir. Nos últimos dias, acordava todas as manhãs às 5. A ansiedade me matava. Eu só adormecia depois de me lembrar de cada momento do dia que havia passado com meu técnico e acordava pensando no instante em que o veria. Minha paixão se tornara doentia. Cada olhar, cada carinho que me fazia, cada cuidado e preocupação que aquele homem tinha por mim era como gotas de veneno que eu tomava. Eu me embriagava com todo aquele sentimento. Era como se não vivesse nunca, me perguntavam como havia sido meu dia e eu simplesmente não me lembrava. As únicas lembranças que tinha eram dos treinos, do jeito que ele me tocava pra corrigir algum movimento errado enquanto eu me alongava, da sua voz grossa e ao mesmo tempo tão doce ao se dirigir a mim e do modo como me olhava, cheio de ternura. Os dias se passavam e uma vontade de me declarar e de pagar pra ver oq ue aconteceria crescia em progressão geométrica. Essa vontade de me jogar, de me render à aventura e ceder ao risco de levar um fora (que me parecia cada vez mais improvável) dobrava a cada vez que ele me tratava daquele modo terno que só um amante trata a mulher amada. Foi em uma sexta-feira que decidi abrir o jogo. Ao final do treino, logo após as outras 4 garotas irem embora, resolvi agir. Chamei-o pra conversar e contei que me sentia diferente. Abusei de metáforas e de enrolações. Dizia-lhe que estava sentindo algo que jamais sentira por alguém e que era como se na sua ausência me faltasse o ar, ou pior: o mar. Foi no auge do meu discurso que descobri o que estava se passando em sua mente. Ele me interrompeu dizendo que sentia o mesmo por mim. Mas para o fim de minha alegria, completou dizendo que eu era a filha que ele nunca teve. Quando se deu conta de que havia somente 15 anos de diferença entre nós, corrigiu: “Na verdade, você é como uma irmã mais nova por quem tenho muito carinho e vontade de cuidar”. Eu quis morrer. Quis matá-lo. Quis matá-lo e morrer em seguida, pois sabia que não viveria sem ele. Apesar disso, fingi gostar do que havia ouvido. Abracei-o e me retirei. Chegando ao meu quarto, chorei até adormecer sem me dar conta.

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