Uma porta de madeira pintada em branco se abriu vagarosamente. De dentro emanava uma luz forte, um clarão amarelado que tornava impossível distinguir o que havia dentro do cômodo. Como o mar no Antigo Testamento que abriu caminho para Moisés e seu povo passarem, a luz se dispersou e deixou uma reta. Por esse caminho, uma mulher, flutuando, veio em direção à porta branca. Vestia uma túnica grega decorada com uma larga variedade de cores: amarelo, violeta, vermelho, roxo e dourado. A mulher era alva, seu nariz, longo e pontudo – algo que certamente afirmava expressividade à sua figura - e seus cachos escuros eram tais quais espirais que se entrelaçavam e pareciam compor naturalmente um nobre penteado. Seu semblante lembrava aconchego: o olhar maternal era doce e calmante, os finos lábios desenhavam um sorriso contido que pareciam convidar quem quer que estivesse à sua frente para o seu colo e até mesmo a inclinação do seu rosto assemelhava-se a leite quente antes de dormir. Os braços da tal mulher estavam abertos e uma luz estranha emanava do seu corpo da mesma forma que eu sempre imaginei que emanasse da forma física de um santo ou de qualquer outra divindade cristã. Era como se essa luz fosse uma materialização de bondade e eternidade. Uma mulher diferente, mais nova, se jogava nos braços da primeira e a mesma claridade rodeava o corpo da outra. Que estranho! A mais nova parecia ser...eu. Eu?
Acordei assustada e, ao digerir o sonho estranho que me fez despertar, em pouco tempo me dei conta de que não só era eu a mulher mais nova, mas também a outra criatura parecia ter o rosto que eu sempre imaginei que fosse da minha mãe. Que engraçado... estava tão ansiosa para minha chegada aos trópicos e, assim, enfim conhecer minha mãe, que até mesmo os sonhos esse meu estado impaciente interrompia.
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