O dia estava claro, o sol começava a despontar no horizonte e os primeiros reflexos de luz batiam em meu rosto me lembrando que já era hora de levantar. Seria apenas mais um dia comum cheio de atividades rotineiras, acompanhadas – como sempre – por meu melhor amigo Thomas. Mal sabia eu que, dali algumas horas, veria estampado no rosto de Thomas um desespero mudo – de quem não sabia como reagir.
Sobre mim? Cabem algumas explanações. Nasci e fui criado no seio de uma típica família rica britânica, cercado por todos os mimos concedidos a mim por minha condição social. Apesar de não ser filho único, nunca me foi negado nada; tive acesso ao melhor ensino, a melhor educação, aos melhores bailes, ao melhor da minha sociedade. Atrevo-me a dizer que sempre fui o filho preferido, condição essa estabelecida talvez pelo oportuno fato de ter nascido homem.
Era comum, em dias tão belos, que eu e Thomas saíssemos a cavalo por minha propriedade. Nossas cavalgadas eram envoltas em risos, relatos e agradáveis conversas. Nada nunca nos preocupava. Meu cavalo, Wind, era o mais belo e veloz da região.
Em meio a nossa prepotência, ignoramos o conselho dado por um dos camponeses de não ir para certo canto da propriedade, onde um animal selvagem fora visto na noite anterior.
Apostamos corrida até o local e ganhei – graças as velozes patas de Wind. Ao me virar despretensiosamente e descuidadamente para zombar de Thomas, tudo aconteceu – como num piscar de olhos as cenas se transformaram. Wind se assustou com a súbita aparição do animal, ergueu as patas dianteiras e quando me dei conta já estava caído no chão. A fera fugira com a reação do cavalo.
Thomas, já ao meu lado, indagou preocupado:
- O que você está sentindo?
- Quase nada!
.......................
Os risos cessaram, o silêncio predominava.
O dia? Continuava claro, os reflexos de luz continuavam a bater em nossos rostos. Mas já não conseguia mais me levantar.
Aos 17 anos de idade, tragicamente paralítico.
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