A Aeromoça
Eu preciso organizar minhas meias em pares, meus livros por ordem alfabética, meus discos por preferência de ritmo e enterrar meu diário morto de ex-amores. Por isso nunca acho nem minhas chaves de casa, quanto mais an excuse para rebater um convite nem tão voluntário assim para substituir Katie. Doente?! Assim eu que vou acabar ficando se continuar nessa loucura. Dias sem parar em casa, nesse vai-e-volta sem fim. Ah, maldita gripe dos infernos! (Ou seria maldita Katie fraca dos infernos?) I am never sick! Paixão é doença? Das desculpas mais velhas ela não podia ter sido menos óbvia? Gripe?? Preciso de açúcar, do meu café.
Hoje I will have to grab qualquer coisa no caminho. Saudades da mãe, da casa que cheirava a café e de menos turbulências. Quando foi que a vida ficou assim cronometrada? Acho que o velho sino viu-se na mesma situação e desistiu. Não badalou irritantemente hoje. Marcando o tempo tão sem atrasos, justo hoje ele resolve calar? Podia pelo menos ter notificado. Simplesmente não bateu longe, religiosamente ao alcance dos meus ouvidos, e quando me dei conta já estava pulando da cama. Acordada pelo automático acertei a taça de vinho mais uma vez. Não da para ficar feliz com mais essa mancha vermelha na cama. É como um rosto olhando para mim através do espelho. Ela me encara feia, abusa da minha boa vontade, espalhada pelo lençol. Ela grita comigo e eu a devolvo apenas meu olhar desprezador. Devia olhar assim alguém que já foi especial. Mães ensinam tanta coisa: “Não pegue a primeira chuva da estação”, “não fale com estranhos”, mas elas falham quando esquecem de ensinar a tirar mancha vermelha do lençol ou how to forget um ex-amor, ou pior, a como conviver com eles still.
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